terça-feira, 7 de agosto de 2007

A crise atual é um fenômeno financeiro e não econômico, diz um banqueiro de investimentos.

Se você acredita que o estresse vai ficar restrito ao ambiente financeiro, então aí está um excelente momento para comprar ações, porque elas estão em baixa. Assim que a alavancagem financeira dos agentes econômicos se acomodar, tudo voltará ao normal e o preço das ações tende a retomar sua trajetória de alta.
No entanto, se você acredita que esse movimento financeiro tem potencial para contagiar o ambiente econômico e provocar uma forte retração do crédito, então é melhor esperar um pouco. As ações nesse caso poderão ficar ainda mais baratas.

O preço da ação é igual ao fluxo de geração de caixa da empresa dividido por uma taxa de juro.

Assim, se a taxa de juro é de 20 e cai para 10 o mesmo fluxo de caixa já dobra e o preço da ação sobe. Foi isso o que aconteceu com as ações brasileiras nos últimos anos. Com a taxa de juro em queda era natural que o preço das ações subisse e o mercado experimentou tamanha alta.
“O custo do capital brasileiro caiu um terço nos últimos dois anos e isso por si só já seria suficiente para a Bolsa subir”, diz o banqueiro. Mas há outro ingrediente, que é o fluxo de geração de caixa dessa equação. A geração de caixa é afetada pela margem da atividade da empresa e pelo crescimento da economia. Se há crescimento econômico, o preço que as pessoas estão dispostas a pagar por determinado ativo sobe e por isso o preço das ações brasileiras também subiu.

O que muda?

Por enquanto, nenhuma dessas variáveis mudou. No entanto, nos movimentos de curto prazo o preço da ação é determinado entre as forças de compra e venda, a chamada lei da oferta e procura. Mais vendedores, o preço cai. Mais compradores o preço sobe.
Como o mercado brasileiro e internacional vem de um período de fortes altas, muitos agentes se “alavancaram”, ou seja, fizeram operações para aumentar o potencial de retorno de suas aplicações. Alavancagem na prática significa tomar um dinheiro emprestado para fazer um determinado investimento. Você embolsa um retorno maior do que se tivesse investido apenas o seu próprio dinheiro e depois paga o empréstimo.
No entanto, qualquer pressão vendedora pode desencadear um efeito de desmonte de posições por parte desses agentes e então pressiona o mercado e força uma baixa nos preços. Isso está correndo no momento por conta, principalmente, das posições alavancadas com títulos que serviram para financiar o mercado imobiliário americano, as chamadas hipotecas subprime.
Alguns cálculos indicam que esse movimento de desmonte de operações com as hipotecas americanas tem um impacto pequeno sobre a riqueza do cidadão americano. Sendo assim, não há chances de contaminação do mundo econômico real.
O grande problema é que esses cálculos podem estar errados. Além disso, o que o investidor está vendo é que alguns fundos começam a quebrar por conta desses papéis.
O banqueiro de investimento que, nas últimas semanas, estudou cuidadosamente o mercado imobiliário americano está otimista. Ele acredita que esta é apenas uma crise financeira. Mas ele continua olhando com lupa indicadores de crescimento econômico e de taxas de inflação nos EUA, na Ásia e na China. “Enquanto não ocorrer mudanças no padrão de crescimento ou da taxa de inflação dessas regiões o leão é manso”, diz ele.

* Por Mara Luquet

Nenhum comentário: